segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Solidão Voluntária

29-11-2021 Quando estava empregado, pensava muitas vezes que não tinha tempo para isto e para aquilo. Hoje acordei sem nada para fazer e peguei no livro que ando a tentar ler há algumas semanas, devido a que o Netflix tenha entrado novamente no programa da noite. Marcação do Veterinário para o Mozart e falta o açaime para o levar amanhã. Vu até à Lardosa passar a tarde porque Ana também vai à cabeleireira. Pelo caminho venho a divagar sobre a resposta que o meu irmão deu à partilha que fiz da minha deslocação a Setúbal. Percebo que ele está um homem, tem por ali conselhos tácitos que acato, porque percebo que ele está um gajo maduro e ponderado na sua forma de estar.. Sim, sei que é mais fácil a racionalização quando estamos bem, que me parece ser o caso dele. Este vício de estar triste não salta para fora. As energias andam no ar e estou mais atento a gestos que a Ana e as miúdas que fazem de toques suaves que chegam a mim interpretados “tens o dom de perceber como estou e esse movimento vem na hora certa”. Esta tristeza traz-me à Lardosa, porque além de vir recolher objectos que fazem falta em CB, é um pretexto para estar sozinho. Gosto desta solidão voluntária. A verdade é que gosto de não ter horários para cumprir, agendas para riscar e estas minhas dicotomias gostas de ter um caminho para percorrer e um destino para chegar. Sim, não é coerente o que escrevo, mas a coerência também é algo que não acompanha a minha respiração. Estar sentado em casa à janela a escrever isto com o sol a bater na face é uma imagem de sonho e agora que estou no sonho, acabo por optar por não estar bem, porque eventualmente nunca me sinto bem e busco sempre algo que não sei o que é. Esta lengalenga não me leva a lado nenhum, mas eu também não sei para onde e se quero ir. Parece que estou um diário infantil que normalmente as raparigas tinham na adolescência. Raparigas e eventualmente rapazes mais desenvolvidos, que não foi o meu caso na adolescência. No outro dia, escrevi qualquer coisa sobre o reconhecimento que as minhas filhas receberam na escola. Eu não me recordo de nada da escola, tenho noção que nunca estudava, trabalhos de casa não sei se os tinha, mas de qualquer modo, fazia ou não era igual, porque ninguém me perguntava, deve ser por isto que não tenho recordações. Sei que era aluno dos mínimos, que andava ali a ter um três por disciplina e nem educação física eu me destacava. Não verdade nunca fui bom em nada. Nunca pratiquei um desporto. O melhor que fiz, foi o curso de despostos náuticos que sempre gosto de destacar. E de resto, nada de nada e continuo a não ter nenhuma imagem do que sou bom. Sinto que a minha vida é uma tristeza por não ter capacidades nenhumas. Não sei no que me poderia destacar, sou do mais normal que existe desde miúdo. Vou tirar um curso apenas e só para ter uma licenciatura de que em nada serve. Ok, eventualmente consegui alguma expansão do cérebro que não tinha e nada mais que isto que é muito pouco.

Dias vazios

25-11-2021 O tempo para pensar pode ser bom para localizar onde estou, mas pode ser mau para constatar que o tempo está a passar. Percebo que isto um dia acaba, percebemos que as filhas cresceram e que não sei ainda do que me faz feliz a nível profissional. Não sei qual a estrada por onde deveo seguir, nem consigo a decisão de saber se vou ou não à cidade onde nasci este fim de semana para estar com 2 “amigos”. O que é a amizade? Ir beber uns copos e recordar a infância, recordar as gargalhadas e gozar uns com os outros. Pois, não sei o que é amizade porque não tenho a quem telefonar para dizer que estou com medo do futuro, estou com receio do que vai ocorrer nos próximos 25 anos, porque a nível profissional estou num barco sem saber que direção seguir. Sim, nos últimos anos andei num barco sem saber onde ia, sabia somente que tinha o ordenado para ter aquelas coisas que nos fazer ser consumidores normais. Sei que desejava este tempo para mim, estar na minha casa sozinho a fazer o que estou a fazer, mas quando cheguei aqui, fico sem saber se isto me deixa feliz. Entrego tudo o que tenho na Ana, por reconhecer que ela é a mulher da minha vida. Elas e as minha filhas são tudo para mim, e nem sei o qua existe para além delas. Tenho um receio enorme de que um dia a Ana não queira continuar a fazer a caminhada de vida comigo quando as filhas saírem de casa, quando olhar para mim e perceber que não tenho nada para lhe dar. Ontem, no programa do Carlos Daniel da RTP, vejo o painel de 9 convidados e percebo que as capacidades que eles demonstram são muito para além das minhas. Percebo que a minha vida não tem nada que acrescente ao mundo, sinto que sou uma mera folha caduca que no outono ou no inverno cai e fica no chão e pronto, está por ali sem ninguém reparar, ou recebe a atenção do varredor municipal para dar um jeitinho à rua. A filha mais nova voltou a estar no quadro de honra, eu vejo o certificado e reconheço que na idade dela eu estava num nível muito mais abaixo daquele de estar num quadro de honra e fico abrigado na frase de conforto “é preciso ter sorte onde se nasce” e eu não tinha as ferramentas e os estímulos com que ela hoje está contemplada. A vida é mesmo assim e ao teclar reparo que as minhas mãos já têm aquele tom de envelhecimento pelas rugas também aqui estão presentes. Sim, eu sei que devemos aproveitar a vida enquanto cá estamos e existe a noção de que estou a desperdiçar o tempo com a tentativa de escrever algo, sem ter as bases de um Português que aprendi tarde. Mas neste vazio, existe algo desconcertante na tristeza e há muitos anos que sei que a tristeza é um vício e que eu gosto de dar uma trinca de vez em quando. O destino da vida foi este.

Não há amigos, há momentos de amizade

27-11-2021
Depois de andar uns dias às voltas, partilho também o desabafo com o meu irmão. Recebo a resposta pela mesma via. “Vem por ti, pelo Pai e pelos amigos” Além da Ana, o meu irmão reforçou a decisão de ida a Setúbal. Ligo ao Carriço, não atende 2 tentativas e passado cerca de 1h liga. Então amanhã vamos para a guerra ? R” granda barraca, esqueci-me mesmo, mas estás a caminho ? Ok era para ir ali e acolá mas vamos na mesma, vou só ligar também ao Joyce e já te ligo” Percebi que não se lembrava e a convicção de ir ao almoço era nula. Chego a Setúbal e vou à chamada igreja de estar com o Zé Canoa que tem sempre a porta aberta, mas que naquele momento estava em casa da Irmã. “podes esperar uns 30m, vim a casa da minha irmã e vou depois aí ter contigo, ou então vem cá a casa ter! A irmã pega no telefone do irmão e diz “vem cá ter a casa” Ok, não não via airmã dele há uns 20 anos e lá fui eu para a morada que coloquei no GPS, e em hora de ponta lá fui eu saber como anda a temperatura ao estar no trânsito de uma cidade que já não é a minha. Passados 15m estaciono e telefono em busca do local. Vou ali à escola buscar o X e depois vou a casa buscar a Y porque ela tem treino, a K está no trabalho e só sai à meia-noite. Queres jantar na casa da minha irmã ? Ela convidou. Porque não, há mais de 20 anos que não falo com a tua irmã. Jantar e conversa de trivialidades e percebo novamente que aquela já não é a minha cidade. Liga o Carriço “ opahhhh já foste ao WAPP ? ele amanhã vai com a família a Fátima” Ok, andaram 3 meses a falar no almoço para o dia 27 de novembro, eu venho de Castelo Branco, tudo bem, estou a ouvir mal, estou aqui com o Zeca. A minha filha mais velha já tem 23 anos, está zangada e foi morar agora para a casa de um preto que é o namorado. A mais nova tem 9 anos. Olá, andas no 4.º ano ? tenho uma filha com a tua idade. E percebo que o vocabulário dela é muito avançado. Questiono de que mês era. R: de janeiro. Continuo na sala com a criança à conversa. Opahhh obrigado pelo convite para jantar vê lá se tens trabalho. “Nada disso, vou ali daqui a pouco buscar uns frangos assados, batata de arroz, gosta ?” Nas boa, já estás com 46 anos ?!?! Fogo, estás muito bem conservadinha. “Dizem que sim.” A tua mais nova tem uma pedalada de conversa...uiui. Com o Zeca há sempre relatos repetidos de proezas de mocada em são fascinantes pelo entusiasmo que ele coloca ao relatar e parece que as ocorrências foram na semana passada. E voilá, a irmã faz um relato em que a vizinha do lado, que já não habita veio a saber que ela já tinha sido presa, que se prostituía ali mesmo ao lado, trimtimtim e o que parecia uma amizade de um momento para o outro correu mal. “Fui lá a casa - mas estás a chamar puta a quem, olha dei-lhe uma murraça, trau trau trau, depois veio a minha filha mais velha com as soqueiras na mão dá-lhe mais umas e ela no chão cheia de sangue, veio a polícia isto e aquilo” A tua filha também é brava ? “uiii lá no trabalho dela nem tem medo das ciganas nem nada” Estou a ver que o vosso sangue tem todo o mesmo ADN, o teu irmão, tu e a tua filha. A filha mais nova com os tais 9 anos entra na conversa “a mana deu-lhe mesmo truz truz na cara com a soqueira e eu fui logo para o quarto a correr” Obrigado pelo jantar, gostei muito do convívio. Na casa do meu Pai, percebo que nada mudou para melhor, pelo contrário. Vi que a minha cama e o quarto parecem um armazém com 3 televisões que deviam estar no lixo, Aceitei a sugestão de ir dormir no quarto do meu irmão que apesar de mau, é o melhor local para dormir naquela casa. Vejo que a torneira da cozinha já não tem o tubo principal, como deitas água agora Pai ? “sai por baixo não faz mal, o rapaz da câmara vem cá a casa um dia destes” Claro que vem. Percebo já não existir gás canalizado, porque vejo uma botija ligada ao esquentador com uma ligação artesanal também ao fogão. Que se passa com o gás ? “Uma botija para mim dá para muito tempo, e gás canalizado era 60, 80 euros por mês.” Mas só tens uma garrafa, se falha a meio de um banho ou de comida no fogão? “num minuto o rapaz vem logo aqui num instantinho meter uma garrafa, ligo ao rapaz, ele vem logo” Pois... Fazemos companhia na sala um ao outro até ser tempo de ir dormir. Na manhã seguinte, acordo e visto a roupa do dia anterior porque não tinha intenções de tomar banho. Olha à volta do quarto do meu irmão, vou cuscar 4 albuns de fotografias que têm somente fotos do meu irmão, mãe e pai quando estiveram na Suiça. Vamos às bifanas. “vou trabalhar às 11h” Ok, eu também vou beber café com um casal e sigo para Castelo Branco. Resumo de menos de 18 horas em Setúbal: - Valeu a pena porque vi o meu pai. -Constatei que não existem amigos, existem momentos de amizade. -Vim a remoer a conversa com o Zécanoa e com Sónia hoje de manhã, na expressão facial que fizeram do desemprego aos quarentas. - Vim a pensar que o meu pai tem um QI do mais baixo que há e faz com que aquela casa é do pior para habitar pela falta de condições. A maior sorte foi ter recebido o legado da casa dos meus avós que nem assim consegue organizar a vida. A falta de uma mulher na vida dele é essencial e não percebo como vai ele conseguir dar a volta. -Ver aquelas fotos no quarto do meu irmão fez reavivar o sentimento de abandono que senti quando me deixaram em Portugal aquando criança quando eles foram para a Suiça. -Vim a pensar que tenho muita sorte em ter encontrado a Ana na minha vida. -Vim a pensar que penso muito e que estar sempre a pensar faz com que mergulhe em águas que não devo entrar. Já passou.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Finitude do tempo e prioridades da vida.

Curiosidade que achei pertinente
vir aqui registar. A finitude do tempo e as prioridades da vida: Se encheres um garrafã normal de água vazio com metade de areia e depois a outra metade de bolas de pingue-pongue. Num outro garrafão semelhante, colocas por ordem inversa a mesma quantidade de bolas de pingue-ponge e a seguir a mesma quantidade de areia colocada no noutro garrafão. Aqui vai sobrar espaço. Tudo depende da perspectiva com que estamos perante a mesma situação e regular as prioridades que temos na nossa vida.