segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Dias vazios

25-11-2021 O tempo para pensar pode ser bom para localizar onde estou, mas pode ser mau para constatar que o tempo está a passar. Percebo que isto um dia acaba, percebemos que as filhas cresceram e que não sei ainda do que me faz feliz a nível profissional. Não sei qual a estrada por onde deveo seguir, nem consigo a decisão de saber se vou ou não à cidade onde nasci este fim de semana para estar com 2 “amigos”. O que é a amizade? Ir beber uns copos e recordar a infância, recordar as gargalhadas e gozar uns com os outros. Pois, não sei o que é amizade porque não tenho a quem telefonar para dizer que estou com medo do futuro, estou com receio do que vai ocorrer nos próximos 25 anos, porque a nível profissional estou num barco sem saber que direção seguir. Sim, nos últimos anos andei num barco sem saber onde ia, sabia somente que tinha o ordenado para ter aquelas coisas que nos fazer ser consumidores normais. Sei que desejava este tempo para mim, estar na minha casa sozinho a fazer o que estou a fazer, mas quando cheguei aqui, fico sem saber se isto me deixa feliz. Entrego tudo o que tenho na Ana, por reconhecer que ela é a mulher da minha vida. Elas e as minha filhas são tudo para mim, e nem sei o qua existe para além delas. Tenho um receio enorme de que um dia a Ana não queira continuar a fazer a caminhada de vida comigo quando as filhas saírem de casa, quando olhar para mim e perceber que não tenho nada para lhe dar. Ontem, no programa do Carlos Daniel da RTP, vejo o painel de 9 convidados e percebo que as capacidades que eles demonstram são muito para além das minhas. Percebo que a minha vida não tem nada que acrescente ao mundo, sinto que sou uma mera folha caduca que no outono ou no inverno cai e fica no chão e pronto, está por ali sem ninguém reparar, ou recebe a atenção do varredor municipal para dar um jeitinho à rua. A filha mais nova voltou a estar no quadro de honra, eu vejo o certificado e reconheço que na idade dela eu estava num nível muito mais abaixo daquele de estar num quadro de honra e fico abrigado na frase de conforto “é preciso ter sorte onde se nasce” e eu não tinha as ferramentas e os estímulos com que ela hoje está contemplada. A vida é mesmo assim e ao teclar reparo que as minhas mãos já têm aquele tom de envelhecimento pelas rugas também aqui estão presentes. Sim, eu sei que devemos aproveitar a vida enquanto cá estamos e existe a noção de que estou a desperdiçar o tempo com a tentativa de escrever algo, sem ter as bases de um Português que aprendi tarde. Mas neste vazio, existe algo desconcertante na tristeza e há muitos anos que sei que a tristeza é um vício e que eu gosto de dar uma trinca de vez em quando. O destino da vida foi este.

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